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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vereadora do CDS-PP assume pelouros mas perde confiança política do seu partido e da CPNT

Notícia "Nova Verdade", edição de 01NOV2010

A vereadora do CDS-PP na Câmara de Alenquer decidiu assumir pelouros, a tempo inteiro, no executivo liderado pelo socialista Jorge Riso, entrando em rotura com a concelhia do seu partido e com a Coligação Pela Nossa Terra (CPNT), que se apressaram a demarcar-se publicamente de Sandra Saraiva, alegadamente motivada por “pressões familiares e pela necessidade de um emprego”.
Sandra Saraiva, de 44 anos, designer desempregada, foi a número três da lista da aliança PSD/CDS-PP/MPT/PPM para a câmara alenquerense nas autárquicas de 2009, tendo um passado político ligado ao partido de Paulo Portas. Deverá assumir, muito provavelmente, os pelouros de que a vereadora Manuela Mendes, eleita pelo PS, abdicou – Educação, Juventude, Acção Social e Saúde –, no início de Setembro, devido a alegada incompatibilidade com Riso.
A informação de que a vereadora do CDS-PP resolvera aceitar o convite de Jorge Riso para assumir responsabilidades na gestão camarária partiu de uma fonte do PS/Alenquer, no início da última semana de Outubro, tendo o Nova Verdade sido confrontado com respostas evasivas, por parte dos protagonistas deste processo, quando procurou esclarecer os contornos da questão, que se adivinhava poder causar danos consideráveis à principal força de oposição.
Jorge Riso escusou-se, nessa altura, a confirmar a existência de um acordo com a vereadora do CDS-PP: “A única coisa que confirmo é que me disponibilizei para distribuir pelouros por todas as forças políticas representadas na câmara; não obtive resposta, mas aguardo ainda por ela, para garantir um quadro de estabilidade na câmara durante os próximos três anos”, afirmou ao Nova Verdade o edil socialista, prometendo divulgar novidades sobre o assunto logo que viessem a verificar-se.
Também Sandra Saraiva se mostrou bastante lacónica, quando questionada se iria, efectivamente, assumir pelouros na câmara: “Não confirmo isso, ainda não tenho nada decidido”, asseverou a vereadora do CDS-PP, acrescentando que “esta conversa não é para se ter pelo telefone”, mas recusando de imediato ser entrevistada pessoalmente.
Já o líder concelhio do CDS-PP, Luís Barros Mendes, disse não possuir, na altura, qualquer informação sobre o assunto, remetendo para mais tarde uma eventual tomada de posição.
A “bomba” acabou por rebentar a meio da semana, com a concelhia do CDS-PP/Alenquer e a estrutura dirigente da CPNT a marcarem conferências de imprensa, para o final do dia de quarta-feira, 27, separadas apenas por meia hora de intervalo.

Luís Barros Mendes: «CDS
não expulsará Sandra Saraiva»

Da boca do líder do CDS-PP/Alenquer saiu a confirmação daquilo que já se esperava: “A comissão política concelhia de Alenquer do CDS-PP foi formalmente informada, pela vereadora Sandra Saraiva, que a mesma decidiu aceitar um convite que lhe foi endereçado pelo presidente da câmara para assumir pelouros. Esta decisão da vereadora Sandra Saraiva é única e exclusivamente pessoal, não tem, nunca teve, nem poderia ter o apoio do CDS a nível concelhio, nem mesmo a nível distrital ou a nível nacional”, afirmou Luís Barros Mendes, visivelmente agastado, assumindo uma “demarcação total e completa da decisão pessoal da Sandra Saraiva”, que implicará que “daqui para a frente não voltará a ouvir-se dizer que há uma vereadora do CDS na Câmara de Alenquer”.
“Desde que o CDS está presente em Alenquer, sempre fomos oposição ao PS, porque entendemos que ao longo destes 34 anos de poder na câmara fizeram uma gestão danosa do nosso município; contribuíram em muito para a situação que a câmara vive neste momento, com uma dívida que está exactamente como a divida do País – ninguém sabe de quanto é – e, paralelamente a isso, entendemos que o PS na Câmara de Alenquer tem sido responsável por uma situação que não é, de maneira nenhuma, favorável ao nosso concelho e que, inclusivamente, nalguns casos existem coisas que não são muito claras ao nível do funcionamento corrente da câmara”, sustentou Luís Barros Mendes, sublinhando que, “por isso, nunca poderíamos estar interessados em que uma vereadora do CDS, seja ela Sandra Saraiva ou seja lá quem for, viesse a assumir pelouros no executivo PS da Câmara de Alenquer”.
O líder do CDS-PP/Alenquer vincou que, “por respeito com os eleitores, não podemos estar uns dias na oposição e dos outros dias do lado do PS de Alenquer”, assegurando que “há uma coisa que para nós é absolutamente fundamental: verticalidade, carácter e honrar os compromissos”. “Preferimos ser um partido pequeno, mas de pessoas de carácter e de palavra, do que ser de pessoas que hoje dizem uma coisa e amanhã dizem outra”, enfatizou Luís Barros Mendes, salientando que “caberá a Sandra Saraiva decidir se quer continuar, ou não, a ser militante do CDS, porque nós não vamos iniciar qualquer processo de expulsão do partido, isso não faz parte da forma de actuação do partido”.

Nuno Coelho: «Partidos não
são agências de emprego»

Palavras bastante mais duras ouviram-se, logo de seguida, na conferência de imprensa da CPNT, que contou com a participação dos vereadores Nuno Coelho e Pedro Afonso, assim como dos líderes concelhios de PSD e CDS-PP, respectivamente Vítor Ronca e Luís Barros Mendes. “Sinto-me chocado pela forma de estar e de agir, quer da senhora vereadora Sandra Saraiva, quer do senhor presidente de câmara. E sinto-me chocado porque este acto e esta forma de agir representa um vale tudo na política e este vale tudo não se coaduna com a forma de estar da Coligação, nos últimos anos e no presente”, afirmou o cabeça de lista à câmara nas últimas autárquicas, reconhecendo que “nós fomos os três [vereadores da CPNT] contactados pelo senhor presidente da câmara para assumir pelouros, mas após uma reunião entre os partidos foi decidido não aceitar o convite, sendo que a senhora vereadora participou nessa reuniões e concordou com a decisão”.
Nuno Coelho revelou que oficialmente não teve qualquer comunicação de Sandra Saraiva a dizer que iria aceitar os pelouros: “Foi-me dito que as razões invocadas pela senhora vereadora Sandra Saraiva para aceitar os pelouros dados pelo senhor presidente foram uma questão de pressão familiar e por uma necessidade pessoal de ter um emprego. São razões que de carácter político nada têm e, portanto, isto descarta qualquer tipo de incompatibilidade com a Coligação, com a ideologia seguida e a estratégia seguida; nem sequer existiu qualquer incompatibilidade pessoal entre a vereadora Sandra Saraiva e os outros elementos da Coligação”, especificou, insurgindo-se contra “uma postura do vale tudo em política, em que um presidente de câmara se move nos bastidores, demonstrando desrespeito pelos partidos, para assegurar o voto desta vereadora em troca de um vencimento”.
Nuno Coelho defendeu que “quem vem para a política, não pode vir para a política para ter um emprego; as causas que nos movem na política são muito mais nobres e são de trabalho em prol da população do concelho de Alenquer e não em prol da necessidade de ter um emprego. Os partidos não são agências de emprego”. “A Coligação acaba por perder um elemento na vereação, mas não perde o mais importante, que é a sua forma de agir, o seu programa, a sua fidelidade e a vontade de resolver os problemas e a honestidade que apresenta sempre na sua acção política”, rematou o vereador social-democrata, excluindo eventuais represálias por parte da CPNT, sobre a maioria relativa socialista em exercício, em futuras votações camarárias. 

1 comentário:

  1. QUANTO GANHA UM VEREADOR A TEMPO INTEIRO? e QUAIS SAO AS QUALIFICACOES PROFISSIONAIS REQUERIDAS?

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