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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Crime organizado chega ao mundo rural. Milícias também

GNR limita-se a receber queixas, enquanto manadas de vacas e rebanhos de ovelhas estão a desaparecer. Agricultores preparam milícias.
O mundo rural está em pé de guerra. Já não são os roubos sistemáticos do fio de cobre dos pivots que regam as searas ou as plantações de milho que fazem parte do rol de queixas. Agora são atacadas manadas inteiras de vacas e há olivais recém-plantados que desaparecem durante a noite. Os agricultores falam de crime organizado, descrevendo situações em que são utilizadas gruas para roubar todas as alfaias de uma propriedade, situação confirmada pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) ao i. Em resposta, os agricultores estão a começar a organizar-se em milícias para defenderem o seu património. Muitos estão mesmo a desistir da actividade porque já não têm capacidade para reinvestir.
A GNR deixou de fazer patrulhamento nestas áreas. Limita-se a registar queixas contra terceiros que acabam nas gavetas porque não há forma de identificar os ladrões. Alenquer, Ribatejo, mas também no Norte do país, chovem participações, num tipo de crime que aumentou cerca de 25% desde o início do ano.
"A situação chegou onde chegou mas não é por falta de pessoal", diz José Alho, presidente da associação socioprofissional da GNR. Queixa-se antes da má afectação de recursos. "Nós temos um rácio de 5 polícias por mil habitantes, muito superior ao de outros países da União Europeia. Só que 50% dos efectivos das polícias criminais estão afectos a tarefas burocráticas, como barbeiros ou pessoal das messes. É isso que impede que haja uma verdadeira polícia criminal em Portugal e que os números que passamos para a UE não traduzam a realidade nacional." 
A mesma fonte diz que as Forças Armadas tinham este mesmo problema, mas que resolveram a questão da burocracia através da subcontratação de empresas que libertam os militares para as missões estratégicas. E garante que Rui Pereira, o anterior ministro da Administração Interna, lhe disse que não conseguiu mover um único excedentário da Função Pública para as tarefas burocráticas da PSP, GNR ou Polícia Judiciária. A única vitória recente neste campo foi a subcontratação de empregadas de limpeza para fazerem o trabalho que até há pouco tempo era feito pelos guardas. "Já há muito tempo que sabíamos que a situação ia acabar nisto. Era previsível, com a deterioração das condições de vida da população portuguesa. Mas o problema do patrulhamento e do exercício das funções específicas das polícias criminais não está no número de efectivos. Há é falta de vontade política de o resolver", diz ainda o responsável. 
A questão é séria: à CAP chegam diariamente queixas de agricultores de todo o país que são sistematicamente assaltados em roubos de dimensão cada vez maior. "Há quem plante um olival num dia e no dia a seguir encontre o terreno sem uma única árvore", disse João Machado, o presidente da confederação, ao i. O assunto já foi apresentado ao primeiro-ministro na última reunião de Concertação Social. As mesmas preocupações foram expressas à ministra do Ambiente e da Agricultura e está agendada para o final deste mês um encontro com o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo. Mas não há solução à vista. "Cada vez pagamos mais impostos, enquanto o Estado se demite das suas funções básicas, que é a de garantir a segurança dos cidadãos", reforça João Machado.
Dente por dente... A situação está de tal forma fora de controlo que os próprios agricultores se começam a organizar em milícias populares para defender os seus bens. Está-se próximo dos tempos do PREC, em que grupos de privados armados patrulhavam as ruas. Mas esta é a melhor forma de garantir que se conserva o que se plantou de véspera. E de se conseguir manter os rebanhos e as manadas intactas.

Fonte: http://www.ionline.pt


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