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sábado, 5 de novembro de 2011

“Disparei para salvar a minha vida”

A ourivesaria de Lopes Pais dá ainda
mostras do roubo
Eram 10h40 de quinta-feira, e João Lopes Pais, de 51 anos, regressava à ourivesaria que explora no centro comercial O Celeiro, no Carregado, Alenquer, após ter ido à casa de banho. Encontrou três ladrões a partirem as montras do estabelecimento à martelada. "Disse-lhes para pararem e levei com dois tiros de caçadeira que não me acertaram por um triz", recordou ontem ao CM.
João Lopes Pais trazia uma pistola legalizada, calibre 6.35 mm, que diz ter usado para "defesa da integridade física". "Disparei para salvar a minha vida", assegurou, justificando os cinco tiros, que feriram dois assaltantes.
Os colegas do centro comercial consideram-no um herói.
Ourives há vinte anos, João Lopes Pais é arrendatário do espaço do shopping O Celeiro, onde explora uma das duas ourivesarias que detém. É dono de duas armas de fogo, devidamente legalizadas.
A pistola que traz sempre consigo enquanto trabalha serviu-lhe ontem como arma de defesa. A convicção disso é dada pelas marcas dos disparos de caçadeira dos ladrões, na parede em frente à ourivesaria. "Foram tiros que me passaram a centímetros do corpo", recordou. Gilson, um dos ladrões que baleou, foi atingido num ombro. Tentou fugir, mas o ourives "dominou--o com a ajuda de populares", entregando-o à GNR. Tiago Silva, o segundo assaltante ferido, também baleado, barricou-se numa casa em Frielas. Entregou-se após cerco policial. Os outros dois membros do gang viriam a ser presos pela PJ.
No Carnaval de 2009, João Lopes Pais esteve envolvido em situação semelhante. "Três ladrões entraram na loja como clientes. Levantaram uma caçadeira e eu tinha outra. Disparei três vezes e nunca soube se os atingi", concluiu. Para já, o ourives não é arguido. "Passei a tarde de ontem [anteontem] na Polícia Judiciária. Só quero trabalhar", concluiu.
INTERROGATÓRIO EM VILA FRANCA
Tiago Silva, um dos assaltantes baleados, está internado no Hospital de Santa Maria. Tem uma bala alojada na anca. Gilson, o outro ladrão atingido, também está internado. Os outros dois membros do gang e a mulher que albergou Tiago Silva foram ontem presentes ao Tribunal de Vila Franca. A primeira por posse de armas, os segundos por roubo. Desconhece-se as medidas de coacção.

TIROS EM LEGÍTIMA DEFESA
O ourives do Carregado garante que não atirou para matar quando atingiu a tiro dois dos ladrões que assaltavam o seu estabelecimento, mas para se proteger. O homem arrisca-se a ser constituído arguido, mas os penalistas contactados pelo CM consideram que o caso se enquadra na legítima defesa, situação prevista no Código Penal, que exclui a ilicitude. Assim, caso viesse a ser julgado, seria absolvido. A legítima defesa tem como requisitos que a ameaça seja actual e ilícita, o que era o caso, uma vez que o ourives apanhou os ladrões em pleno assalto, e o método de fesa tem de que ser adequado. Neste caso, o ourives reagiu a tiro, mas os ladrões também estavam armados, pelo que dificilmente algum juiz qualificaria o caso como excesso de legítima defesa. "Tem de haver adequação no meio que se usa para afastar a ameaça e tem de se agir para defender interesses juridicamente protegidos, seus ou de terceiros", explicou uma fonte ao CM.

Fonte: "Correio da Manhã"

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