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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O ourives do Carregado que se tornou um herói ao disparar sobre assaltantes

“Herói” é a palavra que se ouve no Centro Comercial Celeiro, no Carregado, concelho de Alenquer, e na rua sempre que se conversa sobre a acção do ourives João Pais. No dia 3 de Novembro disparou sobre os ladrões que se preparavam para roubar a sua ourivesaria. Diz que agiu em legítima defesa para salvar a sua vida.
Em pouco mais de 10 minutos, quatro pessoas entraram na manhã de segunda-feira, 7 de Novembro, na Ourivesaria Lopes Pais, localizada no Centro Comercial Celeiro, no Carregado, concelho de Alenquer, para saudar o ourives João Pais, de 51 anos. Os populares cumprimentam o comerciante pela coragem que teve ao enfrentar três ladrões que na manhã do dia 3 de Novembro tentaram assaltar a ourivesaria. João Pais, que disparou sobre dois dos assaltantes, recusa tanta atenção e agora já só quer retomar a sua vida normal. Os assaltantes foram depois detidos pela Polícia Judiciária e já estão em prisão preventiva.
“Não dou entrevistas porque não fiz nada que o mereça”, começa logo por atirar quando o abordámos.
Tem sido uma correria desde quinta-feira. Um rol de jornalistas à porta e até já o quiserem levar para os programas da manhã na televisão. “Esta é a terceira vez que sou assaltado e das outras duas nem sequer uma notícia pequena apareceu nos jornais”, acrescenta. Nem notícia, nem ladrões apanhados. Os casos acabaram por ser arquivados.
O cansaço evidente no rosto e alguma tristeza deixam adivinhar que o ourives quer é esquecer rapidamente o tiroteio. Tudo aconteceu por volta das 10h40, quando fechou a porta do estabelecimento para ir à casa de banho do centro comercial. O barulho do estrondo provocado pelo arrombamento de vidros deu-lhe imediatamente a certeza que estavam a assaltar a ourivesaria. Veio a correr e pediu aos três larápios para pararem. Em troca recebeu dois tiros de caçadeira que ainda estão marcados na parede do centro comercial. “Não me acertaram por um triz”, conta.
Para salvar a sua vida, puxou de uma pistola legalizada, calibre 6.35 mm, que costuma trazer consigo e também disparou alguns tiros, acertando em dois deles. Conseguiu dominar um dos feridos com a ajuda de populares que ainda fizeram justiça com as próprias mãos antes da GNR de Alenquer chegar ao local e transportar o ferido para o Hospital de Vila Franca de Xira. No próprio dia, João Pais transformou-se num herói. As pessoas que se aglomeravam à porta do centro saudavam a bravura de alguém que teve a coragem de enfrentar os ladrões. Maria Remédio que trabalha numa papelaria do mesmo centro, alinha com o sentimento generalizado. “É um grande homem e tomou a atitude certa”, defende.
Se os ladrões não conseguiram levar nada, o certo é que João Pais tem um grande prejuízo às costas. Para além da porta principal, partiram muitas montras da ourivesaria, danificando muitos dos objectos que se encontravam dentro das vitrinas. A máquina registadora e um computador portátil que o ourives tinha no balcão também ficaram sem conserto. Os larápios já tinham estado uma semana antes no estabelecimento e levantaram imediatamente suspeitas. “Vieram cá deixar um anel para apertar. Já estavam a estudar o local e eu alertei logo o João para o comportamento suspeito”, conta um amigo que vai frequentemente à ourivesaria.
O ourives ainda não foi constituído arguido e espera que isso não venha a acontecer já que diz ter agido em legítima defesa. Antes de terminar a parca conversa, João Pais mostra um papel que guarda na carteira. É um pequeno anúncio de alguém que se mostra disponível para comprar carros e ouro, deixando um número de telemóvel. “Estava no pára-brisas do meu carro. É este o ponto a que chegamos”, conclui.

Fonte: "O Mirante"

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