“Valha-me Deus! Valha-me Deus! O que é que deu a esta gente para vir para aqui matar alguém? Ou deixar alguém aqui morto?” Maria Joana, passo lento pelo peso dos mais de 70 anos, vai andando pelos arbustos da berma de um caminho municipal, mãos na cintura, olhar confuso — ou de indignação. É a primeira vez que vai ao local onde, na sexta-feira, o dono do supermercado onde costuma fazer compras encontrou um corpo. Naquele dia, assim que ouviu uns rumores, foi a esse supermercado para perceber se eram verdadeiros. E eram. Luís, o dono, confirmou: “Disse-me que só não ficou assim ‘mais coiso’ porque o corpo tinha um saco na cabeça”.
A história depressa se espalhou por Alcórrego, uma freguesia com pouco mais de 400 habitantes no concelho de Avis. O supermercado passou a atrair não só clientes mas curiosos à procura de saber o que o dono tinha visto. No local onde foi encontrado, há agora apenas um monte de areia. Mas Maria Joana quase consegue ver naquela berma o cenário que Luís lhe descreveu: um corpo sem roupa, estendido e com um saco na cabeça. Ao lado, um tapete preto caído num dos arbustos.