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quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Alenquer candidata tradição local do “Pintar e Cantar os Reis” a património cultural imaterial

Tendo vindo “a resistir ao tempo e progressivamente a rejuvenescer junto das comunidades do concelho” e para “preservar a identidade e cultura, a tradição oral e a autenticidade do povo alenquerense”, o município de Alenquer decidiu candidatar a manifestação do “Pintar e Cantar os Reis” a património cultural imaterial.
Com esta candidatura, a edilidade pretende reunir um conjunto de documentos – vídeos e obra impressa – com o intuito de, “através da inscrição desta tradição local, estabelecer um vínculo futuro de memória coletiva com o país”.  Conta com a colaboração de uma entidade acreditada como organização não governamental, consultora do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, que reúne uma equipa executiva multidisciplinar, experiente em trabalhos de estudo e inventariação no âmbito da etnografia. A ideia é promover e salvaguardar esta tradição, enquanto manifestação cultural, promover o aumento do interesse público e da sua integração e coesão social bem como a constituição de um “legado multimédia e online” de registos de património imaterial cultural, com vista à promoção da sua sustentabilidade, conservação e valorização.
Crendo que o "Pintar e Cantar os Reis” é atualmente “a mais valiosa manifestação de património cultural imaterial do concelho, o município aguarda agora o culminar deste projeto e a apresentação pública do produto final, que reunirá os produtores da manifestação, representantes da comunidade, órgãos de comunicação social e personalidades convidadas.
De norte a sul do país, na noite de 5 para 6 de janeiro, cantam-se os Reis de porta em porta, mantendo viva uma tradição antiga. Mas em algumas terras do concelho de Alenquer, antes de se cantarem, pintam-se, nas paredes das casas, símbolos e desejos de felicidades para o ano que começa e é aqui que reside a verdadeira originalidade. Os reiseiros, assim se chamam os que cumprem este ritual, dividem-se em dois grupos: o primeiro, munido de lanternas, pincéis e tintas, marca o trajeto com pinturas, servindo-se de um código em que as cores vermelha e azul desempenham um papel importante. Os desenhos compõem-se de corações e vasos floridos, estrelas, símbolos de profissões - como uma balança ou um martelo - a sigla «B.R.», que quer dizer «Bons Reis» e ainda a data. O segundo grupo, após o apontador cantar a solo, entoa melodias e deixa votos de felicidades para o ano novo.
A tradição mantém-se viva, com ligeiras variantes, em lugares como Catém, Casal Monteiro, Ota, Abrigada, Olhalvo, Pocariça, Mata e Penafirme, Cabanas de Torres e Paúla, cobrindo cerca de um terço da área do concelho. Mas há memória de se terem pintado e cantado os Reis em Meca, Espiçandeira, Canados, Bogarréus, Fiandal, Bairro, Estribeiro, Valverde, Calçada, Pereiro, Aldeia Gavinha e Penedos.
Muito se recolheu, estudou e registou sobre esta tradição, entre as décadas de 1960 e 1980, por estudiosos da etnografia local e não só - através de trabalhos divulgados em publicações, designadamente na coletânea “O Concelho de Alenquer – Subsídios para um roteiro de Arte e Etnografia”, Vol. 2, de António de Oliveira, António Guapo e José Eduardo Martins, no “Cancioneiro Popular Português”, de Michel Giacometti e por via de uma exposição, no âmbito da Associação de Defesa do Património de Alenquer.
Estes contributos vieram a constituir-se como muito válidos, não só para travar o desaparecimento desta tradição, que então se adivinhava, mas também para promover o seu verdadeiro rejuvenescimento, permitindo a partilhar do sentimento registado por aqueles estudiosos.
Dando a possibilidade de assistir ao vivo à tradição do "Pintar e Cantar os Reis em Alenquer", o município tem vindo a promover um roteiro turístico noturno, integrado no seu programa “Alenquer, Presépio de Portugal”, que tem-se revelado uma aposta de sucesso, mediante a crescente adesão de público.

Fonte: Câmara de Alenquer

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