Notícia "Nova Verdade", edição de 15OUT2010

O conjunto formado pela igreja seiscentista e bem como as casa circundantes, ligadas paredes meias com aquela, foram projectadas pelo frade André de S. Bernardino e as obras terminaram em 1623. Formam um Imóvel de Interesse Público (Decreto nº 37077 de 29/09/1948) de que a Câmara de Alenquer é comproprietária, concretamente no que toca ao claustro e capítulo que adquiriu há já alguns anos.
Certo é que a recuperação deste conjunto arquitectónico e patrimonial nunca passou das intenções, e a imagem que se apresenta ao visitante, no acesso recôndito através da antiga Estrada Real (actual Rua Gago Coutinho), situado à direita de quem vem do Carregado para Alenquer, a poucos metros da ponte sobre o rio, é de profunda degradação. Anexo à capela surge o pequeno claustro do oratório. Ao centro, há um poço, que foi construído pelos frades. Na casa do capítulo lá está a pedra tumular que mão amiga lhe mandou gravar o seguinte epitáfio: “Este capítulo é de Salvador Ribeiro de Sousa, comendador de Cristo, natural de Guimarães, a quem os naturais do Pegu elegeram por seu rei”. O tempo encarregou-se de desgastar a inscrição no túmulo, que não mereceu a devida salvaguarda.
Já em 1902, Guilherme João Carlos Henriques denunciava, em “Alenquer e o Seu Concelho”, que “por cima da sepultura de um rei estão arrumadas as tábuas velhas e vigas podres que ficaram das últimas obras da casa”. “O Capítulo, onde jaz este grande homem, que como tantos grandes homens dos nossos tempos a roda da fortuna levou ao cume do poder para depois desandar com ele e torná-lo ao seu estado primitivo, esse Capítulo hoje é uma casa de despejos”, lamentava o autor da monografia sobre a vila de Alenquer.

A fama desta proeza correu o Indo-China e os habitantes de Pegu deram a sua coroa a este guerreiro português, que, denotando desinteresse pelo poder, acabou por abdicar do trono, a favor do ambicioso Nicote, e retirar-se. Andou errante e solitário por Espanha e Portugal, apesar de ter sido galardoado em Madrid com uma comenda de Cristo, até que veio a falecer em triste solidão junto à vila de Alenquer.
É o túmulo deste herói, cujo regresso à pátria foi pretexto para um romance em verso de Morais Sarmento (“O Massinga”), que se encontra votado ao desprezo pelo município de Alenquer. Para que a memória não se apague, aqui fica relembrada a façanha deste despretensioso monarca, que foi comparado a Marco Aurélio.
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