Natalina Ferreira, mãe de Marcos (de preto), segurava ontem uma foto do filho como forma de recordação |
Cinco famílias devastadas pela dor. Uma freguesia inteira, Abrigada, transtornada pela perda de "filhos da terra". Este é o resultado do trágico acidente que ontem de madrugada provocou a morte a quatro jovens – o quinto está em coma no hospital – no IC2, em Alenquer.
André Esteves, o condutor, de 19 anos, Carlos Alberto Januário e Marcos Ferreira, ambos com 21, e Augusto Miguel Carlos, de 37, perderam a vida na brutal colisão contra um poste de electricidade. Fábio Galveias, de 19 anos, sobreviveu, mas à hora de fecho desta edição lutava pela vida numa cama do Hospital de São José, em Lisboa.
A noite tinha começado com um jogo de futebol no ringue em frente ao quartel dos Bombeiros da Abrigada, onde os cinco amigos cresceram e ainda viviam. Depois, de acordo com testemunhas e fontes policiais, "puseram-se a fazer piões para provocar quem lá estava". A seguir "arrancaram a alta velocidade" para Alenquer. Menos de dez minutos depois, pelas 00h40, chegava o alerta aos bombeiros: a informação apenas dava conta de um acidente com várias vítimas no IC2. E os elementos dos Bombeiros da Abrigada apressaram-se a socorrer os mesmos jovens que minutos antes os tinham provocado. Mas pouco puderam fazer. A notícia da tragédia foi chegando às famílias durante a madrugada. "Eram 04h04 quando o telefone tocou. Era do Hospital de Vila Franca. Fiquei logo arrepiada, pois pressenti que algo de mau tinha acontecido. Em Abril perdi o meu pai, agora o meu irmão", conta, lavada em lágrimas, Maria Graça, irmã de Augusto, o mais velho do grupo de amigos.
Amparada por familiares e por amigos próximos, Natalina Ferreira, mãe de Marcos, estava ontem à tarde incapaz de pronunciar qualquer palavra entre o choro convulsivo, enquanto agarrava com força uma fotografia do filho. E nem as palavras de conforto recebidas amenizavam o sofrimento. "Ninguém merece isto. Muito menos uma mãe", lamentava ao CM uma tia do jovem.
TRÊS DAS VÍTIMAS FORAM CUSPIDAS
Segundo o CM apurou, nenhum dos ocupantes do Volkswagen Golf levava cinto de segurança, tendo três passageiros sido cuspidos. Os outros dois ficaram encarcerados. E para lá da certeza de que André Esteves era o condutor, não se sabe que lugares os outros quatro ocupavam no carro. O Núcleo de Investigação Criminal de Acidentes da GNR do Carregado vai peritar a viatura, assumindo o inquérito.
CAMIONISTA ESCAPA ILESO
Vasil Sorin, de 50 anos, era o motorista do camião que ainda foi atingido pelo VW Golf. Escapou ileso. "Só foi ao hospital para fazer o teste do álcool, mas acusou zero", garantiu o patrão, Mário Franco.
"ERAM TODOS TÃO NOVOS"
Em casa de Carlos Alberto Januário, a irmã Ana Maria e o padrasto João Inácio eram ontem à tarde o rosto da dor. Ainda atordoados pela terrível notícia, apenas disseram: "É uma tragédia. Eram todos tão novos."
Cenário semelhante vivia-se no Bairro, uma pequena localidade a dois quilómetros da sede de freguesia, onde André Esteves vivia com os pais. Rodeados de familiares e amigos que iam chegando com uma palavra de conforto, só viam o sofrimento ultrapassado pelo da avó do jovem, que gritava entre lágrimas pelo seu "menino".
"Esperança" era a palavra mais ouvida em casa de Carlos Galveias, pai de Fábio. Visivelmente transtornado, o progenitor era incentivado pelos vizinhos a "não perder a fé". "O Fábio está em coma. Só nos resta esperar", disse ao CM minutos depois de falar para o hospital.
Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt
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